O MAU GÊNIO



É difícil quando se quer escrever, se sabe o que quer escrever, sobre o que quer escrever e não tem a mínima ideia de por onde ou como começar. Tenho passado noites em claro no escuro; pensando. Reflito sobre essa minha ânsia de desafios atrás de desafios. Os dias estão parecendo cada vez mais curtos e a vida cada dia mais sem graça. Não penso que sou especial. Não é disso que se trata, mas acho que já me entreguei demais.

Amo demais. Esse talvez seja o grande problema, todavia, de que problema mesmo eu estava falando? Esqueçamos tudo e atravessemos a ponte das noites sem sono. Longe das pessoas que amo quase o tempo todo, deito na esperança vã de conseguir sonhar com a próxima oportunidade de dar um abraço nela. Sim, existe uma pessoa. Dessas pessoas que estão longe demais e que se fazem presentes dentro da gente o dia todo, o tempo todo, toma conta de você por completo a ponto de você não saber mais se você á você ou é ela. A felicidade de saber que a pessoa existe é tão grande que a realidade do sentimento torna-se surreal. E se a felicidade for uma mentira? E se essa mentira for o nosso bote salva-vidas?

Não importa. Toco o barco todas as noites e deixo o vento bater. Pode bater com força, parceiro! Vamos, bata! Eu ajustarei as velas. A vida é complicada demais para a gente ficar simplificando as coisas. Sempre ficando com essas ideias idiotas e sentimento de necessidade de riqueza. Como fui imbecil. Como ainda o sou. Você, não é? Sim, você mesmo! Ou melhor, já que sou a voz da sua cabeça é melhor continuar te tratando por “eu”. Ah! Patético. Como vai? Ainda se preocupando com o mundo? Ou continua achando que sua vidinha é o mundo? Igualmente patético. Ah!

Você está achando o texto confuso e enfadonho, certo? Muito bem, a ideia não é te agradar. É te mostrar que as coisas não são como você quer e tão pouco como você não quer que seja. As coisas simplesmente são, e não estão nem aí para o que você pensa que quer. Quer que eu te fale de Foucault? Nietzsche talvez? Hume? Já sei, vamos voltar a linha ascendente caminhando dos pré-socráticos até chegar na pós modernidade líquida e nas bolas dos Zygmunt Bauman? Que tal?  Patético! Ninguém nunca te disse que a filosofia é cíclica, seu palerma?! Tudo bem mudemos de assunto. Ah!

Você quer falar das leis e dos bons costumes? Muito bem, onde você e seu respeito pelas leis estavam quando os próprios juízes revogaram a lei posta? Cale-se! Digo, cale seus pensamentos enquanto minhas palavras silenciosamente tomam conta e cantam dentro da sua cabeça. Onde você estava quando a escravidão era lei? Quando o nazismo era legal? Matar e castrar mulheres é código de conduta em certas tribos. E aí? Gosta de seguir leis? Me fale sobre justiça! Idiota! Você não acha estranho que homens se reúnam para criar uma constituição em seu nome e no nome de milhões de pessoas que nem sabem o que está escrito nela? Não! Faz quanto tempo que você não se pergunta nada? Não estou dizendo que você seja só mais uma maria caminhando independentemente junto com as outras. Ah! Você é uma pessoa diferente, claro. Inventa mentiras porque não suporta a verdade da vida. Você não aguenta ser real. Você é fraco e nunca será um super-homem. Será só uma ovelhinha que não teria coragem de esfolar um lobo. Você busca um mundo onde ovelhas e lobos convivem pacificamente. Patético. Nenhum lobo é feliz comendo grama, seu lobo. O homem é o lobo de si mesmo. Hobbes queria dizer isso na verdade. Você tem orgulho do processo democrático que te faz se sentir culpado, menor e mal pela pobreza que tem no seu bolso e na sua alma. Ah!


Mas, afinal, quem sou eu para estar escrevendo essas coisas…. Dane-se; não importa. Sou tudo aquilo que pensaram que ninguém jamais seria. Estou aqui agora dentro da cabeça deste que digita e dentro da sua. Gritando enquanto você lê. Eu! Surpresa! A voz que você pensa ser você falando com você mesmo quando olha pela janela do ônibus. Eu! Ah! Vez ou outra faço uma boa ação e te lembro que esqueceu o fogão aceso. Outras vezes faço você ficar na dúvida e correr o risco. De vez em quando, te prego uma peça e faço você voltar quando realmente tinha desligado. E quando ocupo sua cabeça com tantas coisas que você esquece algo e só lembra quando está a uns metros de casa. Se eu pudesse ver sua cara… mas não posso. Sou só uma voz. Ah! Você é mesmo uma piada, mas sabe… eu te amo. Ah!

Se você me escutasse seria uma pessoa melhor. Mas você insiste em fingir ser algo que não é e comporta-se como tudo o que queria ser. O pior é que se esse seu “querer ser” se mete em problemas é você como é que resolve. Ah! Palerma. Acostume-se com a lide. Sim. O combate, mas não aquele que simplesmente combate para vencer; falo daquele que engradece até o perdedor. Você nem sabe do que eu estou falando. Ah! Sou o coringa do baralho, meu amor, sou o começo, o meio e o fim. Entende agora? Entende nada. Você é só um brinquedo do Deus e do diabo que você mesmo criou a sua própria imagem e semelhança. O que? Quer falar dos filósofos, sociólogos e matemáticos? Talvez os físicos te agradem mais. Talvez os astrônomos. Baboseira. Você não quer saber; você quer se distrair. Se destruir. Você quer distração, talvez por isso se destroce tanto. O que quer de mim? Covarde! Ah!

Acha que isso são ofensas? Não são! Você não aguenta mesmo ser real. Ah! Se eu sentisse pena de alguém seria de você. O mundo é seu, o tempo é seu e você deixa passar baseado em meras opiniões de algumas pessoas que por sua vez também perdem o tempo delas dando opiniões sobre você. O ciclo da imbecilidade mora em ti! Ah! Está na hora de extinguir esses dinossauros também, Senhor! Ah! Sim! Vocês não passam de animais inconscientes com um sistema econômico e social bem explicado, mal aplicado e pessimamente vivido. Viajam por um universo infinito e perdem-se na sua pequena existência. Patéticos! Não existe GPS para o espírito, mas vocês simplesmente não entendem isso, não é. Palermas. Ah!


O que querem agora? Digam; um abraço? Sexo? Uma conversa com alguém agradável aos seus olhos viciados? Vocês não se escutam, não se enxergam e adoram se comunicar. Piadas ruins prontas para serem entendidas e nunca agradar ninguém. Nunca se agradar. Ah! Idiotas úteis. Quando a necessidade for suprida, meu amor, a necessidade volta. Quando o desejo for saciado, minha vida, o desejo volta e você é o que? Sim, um escravo do desejo. Vivendo em função do desejo e das sensações efêmeras. Ah! Nunca está o de quer estar porque nunca quer estar onde está. Entendes? Entende nada. Ah!

Vocês vão se dar bem. Sim, vão sim. Vocês são demais. Tudo o que querem é respirar mais um segundo sem sentido, gozar das coisas belas e ter lembranças boas para contar aos amigos. Vocês são animaizinhos ingênuos e fugazes que terão a eternidade para entender que são passageiros. Paradoxal, alguns dirão. Danem-se! A vida não é um quadro negro com um esqueminha para favorecer sua memória visual míope. Ah! Deu por hoje. Acho que está na hora de voltar para o lado inconsciente da cabeça de todos vocês e continuar falando com cada um de forma individual. Estou em todos os lugares. Uso as palavras que você conhece e finjo ser você falando com você. É meu golpe mais antigo. “Eu sou você”. Não é que eu tenha necessidade de fingir ser o que não sou. É que simplesmente não sou. Entende? Não entende. Quando questionaram Deus sobre quem Ele era, Ele disse: “Eu Sou o Eu Sou”. Pois bem, palermas: “eu sou o não sou”. Ah! Não, bobinhos, não sou o diabo. O diabo também fala contigo de vez em quando. Aliás, você fez ele a sua imagem e semelhança também. Ah! Você não consegue ver a minha chegada e quando eu chego não me acha porque eu estou agindo no último lugar que você sonharia me procurar. Ah! Palermas! Amo vocês e me alimento da sua sede do mundo. Ah!


Por Pierre Logan
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