RENASCENDO




Como seria bom um abraço agora! ”. Não disse uma única palavra. Suspirou enquanto pensava. Pensava demais. Ação também era com ele, mas por mais que agisse; o dia tinha meras vinte e quatro horas. O pensamento não obedece ao plano temporal das horas, por isso ele pensava muito, muito, muito mais do que agia. Estava acordado a quantas noites? Duas? Três? Quatro noites? Ele mesmo não saberia responder. Mais sabia que a afirmação do Chuck Palahniuk era verdade, pois “Com insônia, nada é real. Tudo fica distante. É tudo uma cópia… de uma cópia… de uma cópia”. Estava exausto, mas não conseguia dormir. A guerra havia começado pelo lado de dentro.


Quem era ele pouco importava. Ele se descobriu e depois descobriu outro caminho. Não podia demorar muito para se perder. Existe um anjo e um demônio dentro de nós – pensou – e o que ganha no final é o que alimentamos mais. O anjo dentro dele estava em fase terminal numa UTI. O que seria daquele indivíduo agora com o seu lado bom morrendo? Morrendo sozinho.

“Você não devia ter soltado a fera, meu jovem”. Alertou o velho mestre com um olhar preocupado. Ele não sorriu. Era o momento que sempre sorria para diminuir a tensão. Era notável: aquele indivíduo não era o indivíduo de dias atrás.

Subiu as escadas com vagar, deslizando os dedos pelas paredes. Em outros tempos ele correria e saltaria no último degrau. Estranho. Sentou na cadeira, cruzou as pernas e leu o jornal sem expressar nenhuma reação. Estranho demais. Não tocou na xícara de café. Muito improvável. Fixou o olhar no céu e não ergueu o rosto com olhos fechados para sentir a brisa. Não havia sinais do garoto de outrora. Todos esperam que seja somente uma fase.


Por Pierre Logan
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