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Mostrando postagens de junho, 2018

A INJUSTA OMISSÃO

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“Pedro nunca tinha ido à Brasília. Sabia bastante sobre sua história e sua arquitetura, mas naquela tarde modorrenta ele não pegou o avião para ver as suntuosas estruturas da cidade-avião. Ele estava cansado de pensar tanto e tirar conclusões certeiras acerca da cegueira que tinha tomado conta do País. Ele estava com aquela sensação sugerida por Dostoievski no livro “O Idiota”. Tentou durante toda sua vida fazer as coisas do jeito certo, mas só via gente desonesta crescer. Conheceu muita gente boa no caminho, todavia, achava curioso como a bondade da maioria dos homens da modernidade estava quase sempre recheada de covardia e omissão. Durante a viagem ele criou uma máxima que repetiria o dia inteiro: “A bondade e a covardia não cabem no mesmo saco”. Para ele, de acordo com seu pensamento, era impossível ser bom (no sentido de ser justo) e ser covarde ao mesmo tempo. Pedro tinha cruzado a parte da vida mais corrida de São Paulo. Estava exausto e não queri

A GATA NÁRNIA

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Depois de algumas horas de leitura, me sento na janela com uma xícara de chá e tento lembrar de coisas que não me entristecem. Sou um cara feliz, mas minha felicidade é humana, infelizmente. Reflito sobre muitas coisas que preciso para ser feliz. Nós humanos somos criaturas complexas e nosso desejo é insaciável. Não há beleza na nossa complexidade, olhando pelo lado que quase sempre olho. Somos criaturas complexas com complexo de grandeza. Sem querer e sem ter nem ideia disso, esfregamos na nossa cara de geração para geração que somos capazes de dominar elementos, entender animais, domesticar bichos, mas quase nunca somos capazes de entender a nós mesmos. Os gregos até tentaram avisar: “conhece-te a ti mesmo”, mas quando alguém se entendeu na nossa história acabou ficando entre a justiça e a vontade popular. Obviamente nunca daria certo. Escolhemos Barrabás mais de uma vez na história humana. De alguma forma estamos presos a isto aqui. Estamos necessariamente presos às noss

FELICIDADE PARA QUÊ?

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A h! Se não fosse esta dor de cabeça…. Já reparou que o motivo principal de quase todas as tristezas humanas são oriundas justamente da incessante busca pela felicidade? Piada. O que diabos é a felicidade? Vendem a satisfação de suas necessidades mais babacas e você compra. Compra mais caro do que vale e depois que fica completamente satisfeito durante aquele mísero espaço de tempo “feliz”, se acostuma com o que tem e volta a querer outra coisa porque nada, absolutamente nada satisfaz o ser humano. Não fomos feitos para felicidade. A felicidade é uma grande e absurda mentira. Quanto a mim… estou muito bem, obrigado! Não! Não estou nenhum pouco feliz. Dispenso esse frenesi que você chama de felicidade. Não o quero. Fique a vontade para mostrar seu belo sorriso passageiro para as câmeras desatentas dos status que logo desaparecerão. Sabe porque o mais usado aplicativo é gratuito? Já pensou o que faz o Facebook valer tanto na bolsa de valores? Já pensou o que é que paga a conta da

RENASCENDO

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Como seria bom um abraço agora! ”. Não disse uma única palavra. Suspirou enquanto pensava. Pensava demais. Ação também era com ele, mas por mais que agisse; o dia tinha meras vinte e quatro horas. O pensamento não obedece ao plano temporal das horas, por isso ele pensava muito, muito, muito mais do que agia. Estava acordado a quantas noites? Duas? Três? Quatro noites? Ele mesmo não saberia responder. Mais sabia que a afirmação do Chuck Palahniuk era verdade, pois “Com insônia, nada é real. Tudo fica distante. É tudo uma cópia… de uma cópia… de uma cópia”. Estava exausto, mas não conseguia dormir. A guerra havia começado pelo lado de dentro. Quem era ele pouco importava. Ele se descobriu e depois descobriu outro caminho. Não podia demorar muito para se perder. Existe um anjo e um demônio dentro de nós – pensou – e o que ganha no final é o que alimentamos mais. O anjo dentro dele estava em fase terminal numa UTI. O que seria daquele indivíduo agora com o seu lado b

A CASA DAS TRÊS MULHERES

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Fazia tempo que o viajante caminhava só. Mesmo quando tinha alguém do seu lado, a sensação era o de que ele estava sempre sozinho. Era visível que sempre existiam pessoas por perto. Gente por perto nunca faltou. Mas quem disse que companhia tem a ver com pessoas por perto?! O passado era uma bagagem e um sistema de propulsão espiritual que o deixava cada vez mais longe de tudo. Desenvolveu uma extrema capacidade de deixar tudo e todos para trás. “Vida que segue”, dizia de olhos fechados sempre que desistia de coisas que o impediam de caminhar. Sua vida passou por tantas fazes difíceis, ele passou por tantas coisas assombrosas que teve que se reconstruir do nada, se recriar, começar do zero e nesse processo de construção e desconstrução de si mesmo; ele aprendeu a desaprender. Certo dia foi completamente destruído. Não sobrou nada. E foi do nada que Deus criou todas as coisas. No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus (João 1;1).

A ÚLTIMA CARTA DE AMOR

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Oi, amor! Ainda posso te chamar assim? Espero que possa. Você foi a única no meio de todas as esperanças que tive que me deu alguma chance de fazer meu sonho ser real. Não é reclamação. Nunca tive reclamações de você. Até o azar contigo me deu sorte. Mas são tantas coisas para te dizer…. Você sabe que detesto conversas inacabadas. O silêncio era fascinante quando estávamos juntos, mas hoje ele sufoca. Eu poderia imaginar como as coisas seriam no futuro, mas honestamente; voltei ao ponto de partida. Meu plano era diferente de todos os outros. Eliminar as projeções, dizer sempre a verdade e me abrir para o que viesse. Foi assim que te amei. Amei cada milímetro da sua pele. Amei cada fio de cabelo seu. Amei cada rizada sua. Amei os momentos de reflexão. Amei você como nenhum outro homem jamais sonhará em amar uma mulher. Desejei te ter com todas as minhas forças. Iria onde ninguém jamais chegou. Não são promessas cafonas de gente apaixonada. É a verdade. Sempre fui meio mal

A TEORIA DA FONTE

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– Vamos lá – Disse o terapeuta –  abra seu coração. Não há o que abrir. Tudo o que tinha dentro de mim eu já coloquei para fora. Cada palavra dita, cada situação vivida, mas não importa o que aconteça fatidicamente porque se não tivermos as palavras, é como se as coisas não existissem para o ser humano. O terapeuta cruza as pernas e faz cara de curioso. – Continue, Pedro, estamos evoluindo. – Evoluindo…. Não, doutor, não estamos evoluindo. Estamos indo até onde o senhor quer chegar. Mas vamos lá. Estamos aqui para isso, afinal. Eu me apaixonei. Amei demais uma mulher. Sonhei em estar do lado dela e julguei que seria o último lugar onde queria estar até o fim dos meus dias. Entre todos os braços que poderia escolher, eu escolhi os dela. Era tudo o que eu queria depois de ter passado por quase todo tipo de experiência de vida. Nós éramos perfeitos um para o outro.– O que aconteceu para esse sentimento acabar? – Não, não. Não acabou. Eu ainda a amo, mas te

O MAU GÊNIO

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É difícil quando se quer escrever, se sabe o que quer escrever, sobre o que quer escrever e não tem a mínima ideia de por onde ou como começar. Tenho passado noites em claro no escuro; pensando. Reflito sobre essa minha ânsia de desafios atrás de desafios. Os dias estão parecendo cada vez mais curtos e a vida cada dia mais sem graça. Não penso que sou especial. Não é disso que se trata, mas acho que já me entreguei demais. Amo demais. Esse talvez seja o grande problema, todavia, de que problema mesmo eu estava falando? Esqueçamos tudo e atravessemos a ponte das noites sem sono. Longe das pessoas que amo quase o tempo todo, deito na esperança vã de conseguir sonhar com a próxima oportunidade de dar um abraço nela. Sim, existe uma pessoa. Dessas pessoas que estão longe demais e que se fazem presentes dentro da gente o dia todo, o tempo todo, toma conta de você por completo a ponto de você não saber mais se você á você ou é ela. A felicidade de saber que a pessoa existe é tão