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Mostrando postagens de maio, 2018

O POÇO DE LOGAN

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– “Sobreviva! ”. – Quem está aí? Meu Deus! Onde diabos eu estou? Alguém!!! – “Sobreviva! ”. – Quem está dizendo isso? Ora, me responda! Por que não consigo ver nada? Deve ser um pesadelo. Eu devo estar sonhando. Não sei onde estou, mas sei que… nem sei bem onde eu estava antes de vir parar aqui. Não consigo ver nada. Minha cabeça dói demais. Será que se eu fechar os olhos e me concentrar consigo acordar? Não custa tentar. – “Muito bem”. – O quê? Quem é você? – Ora, cale-se! Por que estou amarrado nesta cadeira? O que vocês fizeram comigo? O que são essas marcas. Meu Deus, você se parece muito comigo. – “Deve ser porque eu sou você”. – Me solte! – “Solte-se você. Foi você quem se amarrou aí”. – Eu me amarrei? Você deve estar maluco! – “De fato, Deus escolhe as coisas loucas do mundo para confundir os sábios. Mas se estou louco por que é que estou livre e você preso nessa cruz que você chama de cadeira? ”. – O quê? Realmente esta m

A DAMA E O GUERREIRO

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Curioso como a vida marca encontros. Ela não combina conosco e nem nos pede permissão, deve ser por isso que dizemos que a vida não é necessariamente nossa. Ela é uma sucessão de acontecimentos que nos empurra em direção ao desconhecido. Há quem acredite que seja somente um intervalo entre o nascimento e a morte. Sem saber esses dois estão provando o contrário. Perdão. Ainda não expliquei o que está acontecendo. Um andarilho passou por mim nesta madrugada e me pediu abrigo. Disse que não tinha nada para compartilhar além de algumas experiências vividas por ele e transmitidas a ele através de conversas, canções, leituras e rituais. Eu estava meio que entediado com a insônia que me desgovernou durante umas madrugadas, por isso aceitei. Dei a ele um pouco de vinho, queijo, algumas azeitonas e sentei-me ao lado daquele desconhecido. Ele ficou algum tempo em silêncio e esvaziou rapidamente duas taças de vinho. – Vai chover em breve! – Afirmou olhando para o céu que não parecia co

SOBRE PESSOAS E ÂNCORAS

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Espere. Tenho muitas poesias escritas por muitos poetas bons na minha memória. Talvez eu possa recitar algumas para você. Sei lá… talvez eu possa arrumar outra boa desculpa para te ter por perto. Não sei… Todas as vezes na vida que eu não soube o que fazer improvisei, mas minha entrega total a você não foi improvisada. Foi impensada… foi inesperada… foi desesperada…. Eu quis te levar para conhecermos juntos o caminho, mas eu desconhecia os perigos de caminhar a dois. Especialmente quando a pessoa que está contigo não te faz se sentir acompanhado. Você sabe…. Quantas coisas eu nunca soube explicar. Meu coração sentia demais para ser representado pelo meu vocabulário limitado e foi por isso que fiquei tantas vezes calado, bebendo todas aquelas sensações em silêncio; nadando nas palavras não ditas. Surdo para todos os gritos de socorro no oceano tempestuoso dentro de mim. Silêncio sufocante. Queria que você viesse para que juntos pudéssemos ver, mas foi só um de meus devaneio

DESGOSTO MUSICAL

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Se você gosta de funk o problema é seu. Respeito seus problemas. Respeite também meu direito de esculhambar o funk. Em nome de todas aquelas pessoas que adoram ouvir música ruim com fone de ouvido, venho expor aqui minha posição acerca da esculhambação geral de República. Acha que não faz sentido? Pois é, dizer em uma letra que seu pau ama uma menina também não faz sentido nenhum, mas você canta e elas gostam. Isso é o que importa, não é? Como todo homem que ama o respeito que sente pelas mulheres, sei qual a diferença entre o rebolado que faz uma garota se abaixar e o que faz ela se rebaixar. Isso nada mais é que um reflexo da necessidade que essas meninas têm de se piorar para agradar moleques de gosto ruim. Essa tácita exigência de emburrecimento feminino é causado, no meu humilde e magnífico ponto de vista, pela insegurança de jovens inseguros que não teriam bagagem para conquistar alguém que não pensasse com a bunda. Calma. Não estou dizendo que essa narco-cultura não

O VIADUTO

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Pedro continuava buscando respostas. Nem sabia bem quais eram as perguntas. Ele só procurava algo que fizesse com que ele sentisse que alguma coisa na sua vida era real. Tudo o que a sociedade considera suficiente para ser um homem bem-sucedido, Pedro já tinha conquistado. Estava no auge de sua carreira como advogado e professor, mas aquele vazio que sentia por dentro não se preenchia por nenhuma conquista que viesse de fora. Certo dia ele deixou seu suntuoso apartamento num bairro de luxo de São Paulo para andar a pé pelas ruas. Estava cansado daquela felicidade falseada pelos sorrisos escancarados dos amigos, familiares e pessoas que encontrava com frequência. Decidiu repentinamente que não pegaria um taxi naquela noite. Acenou para o primeiro ônibus que passou e seguiu em direção a qualquer lugar. “Quando não temos para onde ir, qualquer lugar serve” – Pensou. Na verdade, ele sabia que o lugar de chegada era o menos importante. Sabia que a riqueza do caminhar e as experiênci

MEMÓRIAS PRESENTES

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O cheiro da casa estava gravado na minha alma. O portão que quase sempre estava fechado, a garagem esperando pelos carros, as escadas que na minha infância subiam como uma grande ponte diagonal estendendo-se em direção ao céu. O paraíso era a antessala com piso de madeira. Quando criança eu corria por esta casa sem respeitar as funções das portas ou janelas. Pendurava-me nos móveis, escalava os batentes, salvava princesas em perigo. Era um pequeno menino cujo espírito parecia não caber dentro do próprio corpo; talvez por isso, vez e outra, eu precisava transbordar. Fechava os olhos, sentia a insignificância da minha existência naquele imenso processo de criação e destruição de infinitos universos. Não lia livros ainda, mas lia o céu, o vento, as telhas das casas vizinhas, os aviões que passavam sem pressa por um imenso céu que os diminuía. O mundo parecia não precisar de mim para nada, mas eu precisava desvendar o mundo. Quando somos crianças temos a vantagem de termos p

UMA CARTA DE AMOR

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São Paulo, 30 de Dezembro de 2016 Para você, minha amiga; meu amor. Levantei mais uma vez antes do sol nascer e, pensando em você, lembrei que essa era uma de nossas regras mais antigas. Quando só por diversão íamos para cama pensando em sexo, mas começávamos a conversar, sorrir, se olhar e nos abraços dos sorrisos atentos dos meus olhos que não desgrudavam dos seus, nós descobríamos que nos amávamos. O desejo que sentíamos um pelo outro era natural, no entanto, buscávamos no fundo o gozo da alma. Como era lindo ver você sorrir. Estávamos naqueles momentos completamente despidos de roupas e de máscaras. Éramos almas nuas que mergulhavam em abraços e carícias que pareciam não ter fim. Você adorava me ouvir falar daqueles malucos que pensavam sobre o mundo, o amor, a vida, o universo e no meio das minhas explicações mais apaixonadas, você interrompia com um beijo e dizia que nunca havia pensado naquilo antes. Não sei bem se você se lembra que depois de minutos em silênc

O PESO DO MUNDO

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Parado ali, com uma estátua, ele observava inquieto, como um ser humano, a estátua do Atlas. – Terrível fardo – pensou, olhando para estátua, mas referindo-se a si mesmo – Como alguém pode suportar tamanha carga? – Ficou ali por horas fazendo companhia a obra de arte, com receio de sair e se sentir outra vez sozinho. Seu nome era Pedro, um cara legal, sorridente, inteligente, divertido e de boa aparência. Se o sucesso fosse baseado apenas na carreira profissional, ele poderia ser considerado um homem de sucesso, pois era um advogado de renome e daqueles professores que se transformam facilmente em ídolo dos alunos. Mas de uns tempos para cá ele vinha se sentindo estranho. Ele odiava se sentir assim. Era um tipo de tristeza, mas daquelas que não se apresentam pelo nome. – Por que estou triste? – Perguntou a si mesmo em voz alta, como se esperasse que a resposta viesse de fora. O silêncio foi total dentro dele. A tristeza não se apresentava e, não se apresentando, ele não sabi