UMA CARTA DE AMOR


São Paulo, 30 de Dezembro de 2016
Para você, minha amiga; meu amor.

Levantei mais uma vez antes do sol nascer e, pensando em você, lembrei que essa era uma de nossas regras mais antigas. Quando só por diversão íamos para cama pensando em sexo, mas começávamos a conversar, sorrir, se olhar e nos abraços dos sorrisos atentos dos meus olhos que não desgrudavam dos seus, nós descobríamos que nos amávamos. O desejo que sentíamos um pelo outro era natural, no entanto, buscávamos no fundo o gozo da alma. Como era lindo ver você sorrir.

Estávamos naqueles momentos completamente despidos de roupas e de máscaras. Éramos almas nuas que mergulhavam em abraços e carícias que pareciam não ter fim. Você adorava me ouvir falar daqueles malucos que pensavam sobre o mundo, o amor, a vida, o universo e no meio das minhas explicações mais apaixonadas, você interrompia com um beijo e dizia que nunca havia pensado naquilo antes.

Não sei bem se você se lembra que depois de minutos em silêncio, quando eu mexia no seu cabelo bagunçado por mim, você interrompia o silêncio e como quem muda de canal e quer ver um filme, dizia em tom mavioso: “Fala mais”. Eu não sabia o que dizer porque achava que o silêncio tinha a capacidade de falar por nós dois, mas para você o silêncio não preenchia nenhum espaço. Então ríamos do meu embaraço e nos abraçávamos. Mudos. Ninguém precisava dizer mais nada.

Lembro quando você parava e se encarava no espelho, fazia poses, ensaiava uns movimentos para admirar o próprio corpo e quando me perguntava, sem desviar os olhos do espelho, o que eu estava olhando, eu dizia com um sorriso que não conseguia tirar dos lábios: “- Olho para mesma beleza que você olha”. Você dava um pequeno salto, mergulhava na cama e nossos sorrisos se beijavam. Descobrimos juntos que tínhamos um pelo outro o amor mais verdadeiro, poderoso e puro que poderia existir entre um homem e uma mulher. Erámos irmãos, protetores, amantes, pai e mãe; éramos um só. Depois de você em minha vida, percebi que a distância nunca nos separou. Ela nos dividiu. Nos partiu em dois pedaços de um mesmo ser.

Você pode separar, meu amor, duas coisas diferentes. Você pode separar duas coisas iguais, todavia, não pode separar uma coisa só. Neste caso você divide; e não faz isso sem cortar ou quebrar. Não é possível separar uma pessoa só. Foi por essa razão que quando eu soube que você precisaria seguir seu caminho e lutar nas batalhas que a vida teria para você, no mesmo dia que juntamos nossas mãos para orarmos juntos, quando nos apertamos num abraço que parecia querer sufocar a saudade a fim de não a sentir mais; eu disse que não estávamos nos separando. Estávamos nos quebrando e naquela dolorosa quebra de duas pessoas que haviam se fundido em uma só, você ficaria com minha melhor parte.

Hoje estamos longe. Porque depois de nos dividir em dois, e somente depois disso, a vida nos separou. Separou nossos corpos. Nos deixou ligados apenas pela distância que tortura vagarosamente a necessidade que sinto de te ter por perto. Meus pensamentos viajam até você. Cada segundo é uma jornada que traz sua imagem até mim e volta com meu desejo de te ver bem. Meus pensamentos impedem qualquer risco de ameaça de você ficar só. Meus sonhos, meus anseios, meu amor, não ficam mais longe que a distância de segurança necessária para respeitar seu espaço e não te aprisionar nos meus sentimentos. Você é uma pessoa livre. Nem sempre foi. Eu sou uma pessoa livre. Nem sempre fui. Não há explicação capaz de nos fazer entender como precisamos nos perder no outro para encontrarmos nós mesmos um no outro. Nos agarramos, nos apertamos, e na promessa de nunca nos abandonar conseguimos a liberdade tão almejada por aqueles que querem ganhar o mundo. Nos libertamos nos apertos dos braços que abraçaram a prisão que éramos de nós próprios antes de nos encontrar. Amor é liberdade.

Tentamos buscar explicação. Inútil. Você poderia estar com qualquer pessoa. Era livre. Eu poderia sair com qualquer mulher. Era livre. Mas dentre pouco mais de 7 bilhões de pessoas que existem nesta terra imensa para nós, escolhemos estar juntos. Só nós dois. Foi assim que eu discursei baixinho no seu ouvido sobre como você era a pessoa mais importante do mundo naquele momento para mim. E você sorriu. E eu ganhei o dia.

Hoje guardo todas as lembranças suas e elas só me fazem bem. Ainda estou nutrindo em mim a esperança de te ver pessoalmente, de te ter por perto nem que seja para conversar e sorrir cada um do seu lado da mesa. Assim vou vagarosamente desnutrindo o pessimismo que tenta me colocar para baixo e desesperançar aquela fé nutrida anteriormente.

Hoje te ligo. E quando, horas depois, você me retorna numa mensagem que diz que não atendeu porque estava lendo, minha alegria transborda pelas bordas da minha alma e convertendo-se em lágrimas de felicidade transbordam também pelos olhos, correndo pelo rosto que você beijou de encontro ao sorriso causado por você. Você é linda. Diria isso mesmo que nunca tivesse olhado para você. Você é uma pessoa maravilhosa que com sua simplicidade descomplicou todo embaraço que havia em mim.

Lembro dos comentários admirados que fazia sobre a minha memória. Agora recorro justamente a ela para explicar os motivos que me levaram a escrever meus sentimentos e registrar minhas lembranças. Na despedida quando me abraçou você fez um único pedido. Sim, você sabia que eu faria qualquer coisa por você. Sabia que estava disposto a loucuras e outras provas de amor cafonas. Sabia do fogo que existia dentro do meu ser e dentre todas as coisas que sabia que eu era capaz de fazer, você disse baixinho no meu ouvido: “Não esqueça de mim”.

Ainda existe muita coisa em mim para dizer a você, mas a carta ficaria demasiadamente longa. Então, deixemos ela por aqui e toquemos a vida como sempre fizemos. Só não esqueça que hoje levantei antes do sol por ser uma de nossas regras mais antigas, e pensei em você porque você está sempre presente em mim.
PS.: Eu te amo!


Por Pierre Logan

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